quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Big Brother global

           No início do século XX era comum recorrer à carta para a comunicação entre pessoas. No caso de ser um assunto urgente, recorrer-se-ia ao telégrafo ou mesmo ao telefone para quem já o possuísse. Nesses tempos a necessidade de troca rápida de informação era baixa e os serviços oferecidos eram suficientes.

            Com o aumento do número de habitantes do planeta e a consequente globalização das sociedades, veio também a necessidade de uma comunicação mais eficaz e célere. Para fazer face a estas necessidades, a utilização de telefones tornou-se generalizada, surgiu o fax para envio de documentos, entre outras tecnologias, algumas novas, outras reinventadas.

Com a expansão do mercado de computadores pessoais e de redes domésticas e/ou locais, não tardou a surgir uma rede mais vasta e que tivesse como premissa de base a ligação entre todas as pessoas do mundo.

Esta rede, a Internet, trouxe para nossas casas a possibilidade de aceder a conteúdos e informações variadas e virtualmente ilimitadas e, mais importante que tudo, a possibilidade de contactar com quem quiséssemos independentemente da sua posição geográfica.

Surgem então os programas de comunicação através da Internet como o mIRC e, mais recentemente o MSN ou o Skype. Mas com estes programas, surge a necessidade de localizarmos os clientes da aplicação, mesmo que seja ao nível interno do programa, para que as comunicações possam ocorrer sem falhas. A possibilidade de obter estes dados é real e o certo é que começaram a ser usados para os mais diversos fins.

Assim, nos dias que correm, e com o crescente número de aplicações de comunicação, não só a nossa posição geográfica, mas também dados confidenciais como número de telefone ou número do bilhete de identidade, encontram-se espalhados pela rede e basta uma pessoa com acesso à Internet e alguns conhecimentos para os descobrir e utilizar sem nossa permissão.

Poderíamos pensar que este tipo de ameaças e invasões de privacidade ocorreriam apenas na Internet, mas a verdade é que tal não é verdade. O nosso telemóvel, por exemplo, está constantemente a ser localizado pelas antenas do nosso operador. Sempre que utilizamos um serviço ou um cartão multibanco estamos a ser localizados e identificados. Quando entramos numa loja ou num centro comercial, estamos a ser filmados. Mais situações existem em que todos os nossos movimentos estão a ser controlados, filmados ou registados de alguma forma, por pessoas ou máquinas.

Chegamos então à conclusão que privacidade é um conceito que está rapidamente a cair no esquecimento e que as violações da mesma ocorrem diariamente, sem nos apercebermos que tal está a acontecer. Vivemos num Big Brother global, e não sabemos quem controla este “show”, nem mesmo as regras do jogo. As legislações para este sector são pouco claras e negligenciam claramente o lado da privacidade individual em nome da segurança colectiva. Mas os cidadãos do mundo continuam a preferir o conforto e facilidade de acesso às novas tecnologias e à informação, negligenciando quase por completo todos os aspectos relativos à privacidade pessoal. Julgam estar a “controlar a situação”.

Mas qual será o limite? Até que ponto os cidadãos irão continuar a abdicar dos seus direitos individuais em nome das novas tecnologias? Estas e outras perguntas não têm actualmente resposta. É dever de todos zelar para que a segurança do próximo seja garantida, mas também é dever de todos garantir e preservar a sua própria segurança. Chegará o tempo em que as pessoas irão tentar se “desligar” do mundo para que possam reconquistar a sua privacidade, o seu espaço.

Será que ainda irão a tempo? Hoje em dia é possível faze-lo, nem que seja parcialmente. Basta para isso desligar o telemóvel ou o MSN, evitar utilizar o cartão multibanco e o carro ou mesmo viajar para um lugar isolado. Mesmo recorrendo a estas estratégias, podemos facilmente observar a nossa dependência destas novas tecnologias o que demonstra claramente que o amanhã onde não será possível ter privacidade não está tão longe como somos levados a pensar.

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