quarta-feira, 3 de janeiro de 2007

O pior de nós

Não consigo pensar em sexo com este frio...Quer dizer... É melhor começar de outra maneira... As datas associadas ao calendário religioso são pouco dadas à libido e mais à gula. Ora consolado um dos pecados, esquece-se o outro.
Ia eu em busca de mantimentos que me alegrassem o cabaz (e a gula) quando encontrei dois amigos com quem já não estava há algum tempo. Os amigos - alguns deles - tornam-se aborrecidos por exigirem muito: querem a nossa presença, os nossos telefonemas, o nosso apoio, a nossa inteira disponibilidade. Se há falha, está o caldo entornado: "Afinal não és quem eu pensava", "Não pude contar contigo no momento em que mais precisava", "Pra mim morreste". As coisas que nos dizem perante a nossa indisponibilidade são de bradar aos céus.
Encontrei dois rapazes que também andavam às compras e, quando os vi, percebi que não me queriam ver. Tentaram enfiar-se na zona da garrafeira, mas o Melro, foi em busca das melhores pingas para este fim de ano e levou com aquele depósito mau que se aloja no fundo das garrafas. A acidez dos rapazes percebeu-se logo ao fim das primeiras palavras: "Estás vivo?!". Hesitei em pôr a pinga do Douro no cesto ou dar-lhes com a garrafa no coiro. Eu percebo que as pessoas nos reclamem depois de em momentos determinantes lhes termos pertencido, mas porque é que nos cobram isso a toda a hora? Pior! Se há coisa que mais detesto noutro homem, é que ele me observe dos pés à cabeça, vendo a forma como estou vestido, o que tenho calçado, se a barba está bem aparada e se os meus biceps continuam a não pôr em causa os dele. Mas será que quem olha assim não percebe que é olhado? Será que há homens que são tão obtusos que não percebem que nós percebemos que estamos a ser mirados de um pêlo ao outro? Encontrar um amigo (dois!) que nos olha como se cobiçasse cada pedacinho nosso é ter vontade de nunca mais o ver. Eu, pelo menos, guardo a minha inveja para o aconchego do lar onde, rodeado de revistas, chamo nomes aos tipos que realmente vale a pena cobiçar e que não dão por nada: o Tâmega, o Stewart, o Slater.
Este episódio triste de encontrar dois coirões amargos que me sugaram o estilo dos pés à cabeça lembrou-me uma miuda que andava comigo na escola e que um dia, sentindo-se observada, gritou com sotaque:"O que é, caralh*? Por acaso tenho a pita na testa?". Eu acho que no novo ano deviamos deixar de engolir em seco estes incómodos e passar ao ataque. "A pita na testa" talvez seja um bocadinho de mais para Coimbra (onde passo a maior parte do tempo), mas as pessoas, os coirões que deambulam na nossa vida, merecem resposta. Os taxistas que cheiram mal e têm a suspensão de rastos merecem o pior de nós. As tipas mal amadas que trabalham o ano inteiro connosco merecem o pior de nós. Os funcionários da repartição de finanças que põem água no cabelo e se sentam poderosos na sua cadeirinha insignificante merecem o pior de nós. As raparigas coimbrinhas que trabalham numa loja da moda e que acham que podem ser arrogantes das 9h às 20h merecem o pior de nós. Os homens que não têm tomates e deixam uma mulher no desespero quando desaparecem sem deixar rasto merecem o pior de nós.
Em 2007 passem ao ataque. Não tenham papas na lingua. Não guardem para vocês o que podiam ter dito aos outros. Não façam fretes. Não aturem gente que nos cobra a amizade nem tipos inseguros que nos cobiçam a carne e o molho.
Era esta a mensagem de paz que vos queria deixar...
Bom ano novo!
"Oh God, make me good, but not yet!"

Beijos e abraços revolucionários...Mas com votos de um ano muito feliz ;)
Melro

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